Abstract: | Desde o século XVII, a Amazônia e a região do Baixo Amazonas brasileiro, vem sofrendo sucessivos impactos ambientais e culturais. Os contatos entre os exploradores, colonizadores, missionários e grupos tradicionais, trouxeram diferentes interpretações sobre o conhecimento do mundo, da floresta, das plantas, das lendas e dos sistemas terapêuticos adotados, suprimidos ou adaptados. O objetivo desta pesquisa é abordar as artes de curar no Baixo Amazonas (Pará e Amazonas) entre os anos de 1870 a 1940, relacionando-as ao imaginário social das doenças na região e aos curadores que atuaram e seus descendentes, como os benzedores, consertadores, parteiras, sacacás e curandeiros. Neste contexto, são evidenciadas as culturas familiares, a pluralidade de conhecimentos, o conhecimento compartilhado entre grupos tradicionais sobre a fauna e flora, e os rituais mágico-religiosos, todos objetivando os cuidados com o corpo e o retorno da saúde. É importante salientar que o processo histórico de troca de conhecimento entre os ameríndios, exploradores, colonizadores, ribeirinhos e quilombolas, e posteriormente com a medicina científica já em fins do século XIX, transformaram e influenciaram os comportamentos de todos estes grupos, em alguns espaços e prerrogativas adotadas. Portanto, é possível perceber a adoção de novas concepções sobre as doenças, de tratamentos e manutenção dos corpos e comportamentos, de tentativas de “adequação” dos ambientes e natureza insalubres através de discursos higienistas, e principalmente, na progressiva investida dos discursos desmoralizantes de figuras como os xamãs e curadores, além de seus universos explicativos sobre as enfermidades e terapêuticas. Tal processo, acabou por gerar documentos e escritas tendenciosas que os reduziram a invisibilidade e as margens da escrita da história. Since the seventeenth century, the Amazon and the region which comprises of the Brazilian Amazon have been suffering successive environmental and cultural impacts. Contacts between colonists, explorers, missionaries and traditional groups have brought different interpretations to the awareness of the world, forest, plants, stories, and of the therapeutic systems adopted, suppressed and adapted. The objective of this research is to address the healing technique in the lowland Amazon region (States of Pará and Amazonas) between the years of 1870 and 1940, and the association between the social imaginary of diseases in the area and to the curators who worked and their descendants, such as shamans, midwives, sacacas and healers. In this context, evidence of the family cultures, the plurality of the knowledge, the experience shared between traditional groups regarding fauna and flora, and the spiritual-religious rituals, all aiming at the care of the body and the return of health, are discussed. It is important to point out that the historical process of knowledge exchange between pre-Columbian natives, explorers, European settlers, riverine and quilombola communities, and later, with modern 19th-century medicine, transformed and influenced the behaviour of all these groups, in some way and rights adopted. Therefore, it is possible to perceive the adoption of new conceptions about diseases, of treatments and maintenance of bodies and behaviours, of attempts to "fit" the unhealthy environments and nature through hygienic discourses. Becoming evident especially in the progressive invigoration of demoralising figures discourses such as shamans and healers, as well as their explanatory universes about illness and therapeutics. Consequently, the process eventually generated biased documents and writings that reduced them to invisibility and the margins of writing history. |