Resumo: | Desde a Antiguidade, filósofos fazem uso de paradoxos para fomentar
argumentos e discussões através de deduções baseadas em regras da Lógica
Clássica. Observamos que esse fenômeno, bem como o da contradição, é
comumente utilizado na linguagem do cotidiano e, portanto, vemos como importante
termos estudos de ocorrências linguísticas dessa espécie não apenas nas áreas da
Filosofia e da Lógica, como costumam ser estudados, mas também da Linguística. O
trabalho que apresentamos aqui é uma investigação teórica no qual procuramos
mostrar como contradições e paradoxos, mesmo não que não sigam um viés da
Lógica Clássica, podem ser avaliados sob ótica da Pragmática. Para isso, propomos
uma abordagem como a da Lógica Informal defendida por autores como Walton
(1989) e Costa (2009, 2016) ou seja, uma aproximação da linguagem natural aliada
à Lógica. Em estudo anterior (BEHLE, 2014), concluímos a possibilidade de tratar
paradoxos clássicos sob uma abordagem da Teoria das Implicaturas (GRICE, 1967).
Na pesquisa atual, o objetivo principal é avaliar teorias e estudos da Pragmática
Inferencial, os quais se ancoram na teoria griceana, para verificar se e como eles
dão conta dos fenômenos linguísticos em questão. As teorias e os estudos avaliados
são as neogriceanas de Implicatura com base-Q e com base-R (HORN, 1984) e a
Teoria das Implicaturas Conversacionais Generalizadas (LEVINSON, 2000) e a pósgriceana Teoria da Relevância (SPERBER; WILSON, 1986, 1995). Para que
pudéssemos alcançar esse propósito, iniciamos traçando o caminho das inferências
nos estudos da Lógica Clássica até que chegassem nessas teorias da Pragmática.
Deste modo, apresentamos conceitos básicos da Lógica e noções de teóricos como
Frege (1892), Russell (1905) e Strawson (1950). Refletimos também sobre o que
são os fenômenos da contradição e do paradoxo para os definirmos e os
exemplificarmos, sob viés de autores como Strawson (1952), Quine (1976),
Sainsbury (1995), Cirne-Lima (1996), Rescher (2001), Olin (2003) e Sorensen
(2003). Assim, conseguimos observar, por exemplo, que nem toda a contradição
clássica é um paradoxo da mesma forma que nem todo paradoxo pressupõe uma
contradição. Assumidas essas noções, analisamos as teorias linguísticas
selecionadas para verificarmos até que ponto elas dão conta dos fenômenos em
questão. Para isso, consideramos como elas podem descrever a emersão da
contradição ou do paradoxo e de que modo elas explicam como o receptor interpreta o significado do falante. Com isso, procuramos refletir sobre a possível
irracionalidade desses enunciados que, muitas vezes, não causam estranheza no
interlocutor durante o processo comunicativo. Philosophers have used paradoxes to develop arguments and discussions
through deductions based on rules of Classical Logic since Ancient history. We
observe that this phenomenon commonly occurs in everyday language, as well as
the contradiction structures are regularly perceived. Therefore, we consider important
to study linguistic occurrences of this nature not only in the traditional areas of
Philosophy and Logic, which are usually studied, but as well in Linguistics. This work
is a theoretical investigation in which we seek to show how apparent contradictions
and paradoxes, even those that do not follow a Classical Logic construct, can be
evaluated from the point of view of Pragmatics. For this purpose, we assume an
approach of Informal Logic advocated by authors such as Walton (1989) and Costa
(2009, 2016), that is, an approximation of natural language allied to Logic. In our
previous study (BEHLE, 2014) we have concluded it is possible to treat classical
paradoxes under an approach of the Theory of Implicatures (GRICE, 1967). In this
current research, the main objective is to evaluate Inferential Pragmatics theories
and studies, which are based on Gricean theory, to verify if and how they can deal
with the linguistic phenomena discussed. The theories and studies evaluated are the
neoGriceans Q-based and R-based Implicatures (HORN, 1984), the Theory of
Generalized Conversational Implicature (LEVINSON, 2000) and the post-Gricean
Relevance Theory (SPERBER, WILSON, 1986, 1995). In order to achieve this
purpose, we begin by tracing the path of inferences in the studies from Classical
Logic assumptions until the theories of Inferential Pragmatics. We present concepts
of Logic and notions developed in the studies of some philosophers, like Frege
(1892), Russell (1905) and Strawson (1950). We also reflect about which are the
phenomena of contradiction and paradox in order to define and to exemplify them,
according to authors such as Strawson (1952), Quine (1976), Sainsbury (1995),
Cirne-Lima (1996), Rescher (2001), Olin (2003) and Sorensen (2003). We can
observe that not all classical contradiction is a paradox as well as not all paradox
presupposes a contradiction. Assuming these notions, we analyze the selected
linguistic theories to verify how they can provide us an account of the phenomena in
question. For this, we consider how they can describe the emergence of
contradiction or paradox and how they can explain the way a receiver interprets the
meaning of the speaker. Therefore, we reflect about the apparent irrationality of these statements that frequently do not cause strangeness to the interlocutor during
the communicative process. |