Arquipélago da solidão: Ilhéus domésticos no romance português do século XXI

Abstract

O espaço da casa possui um protagonismo incontornável na cultura portuguesa. Esse espaço – não só o físico, mas também o social, o econômico e o simbólico que nele se entrecruzam – é objeto de estudos de diversas áreas; especialmente na literatura, o tema é profícuo, seja na criação literária, seja na reflexão crítica. Esta tese, em uma pesquisa bibliográfica, busca analisar a recorrência de personagens portuguesas que se autoenclausuram em casa, nos seguintes romances publicados em Portugal no século XXI: Vista da praia, de José Couto Nogueira (2001); Campo de sangue, de Dulce Maria Cardoso (2002); Todos os dias, de Jorge Reis-Sá (2006); o apocalipse dos trabalhadores, de Valter Hugo Mãe (2008); O arquipélago da insónia, de António Lobo Antunes (2008); O ano sabático, de João Tordo (2013); Debaixo de algum céu, de Nuno Camarneiro (2013); O osso da borboleta, de Rui Cardoso Martins (2014); Os memoráveis, de Lídia Jorge (2014); Índice médio de felicidade, de David 2015); Uma senhora nunca, de Patrícia Müller (2016). A análise do conjunto de textos considera aspectos do espaço como categoria narrativa, concepções acerca do espaço provindas da filosofia, como a ideia de espaço vivenciado, e da geografia, como o conceito de lugar, assim como de outros campos do conhecimento, além de estudos acerca da cultura portuguesa. Todos esses dados são utilizados para se explorar a forma como as personagens vivenciam o espaço da casa, revelando a presença de um aspecto da cultura portuguesa que atravessa centenas de anos do país: o complexo de ilhéu, como concebido pelo historiador António José Saraiva.

The space of the house has an essential role in Portuguese culture, not only in the physical sense, but also in its intersection with the social, economic and symbolic aspects. This is an object of study in several areas and, especially in literature, whether literary creation or critical reflection, the theme is fruitful. This thesis, through bibliographical research, seeks to analyse the recurrent theme of Portuguese characters who are self-enclosed at home, in the following novels published in Portugal in the 21st century: Vista da praia, by José Couto Nogueira (2001); Campo de sangue, by Dulce Maria Cardoso (2002); Todos os dias, by Jorge Reis-Sá (2006); o apocalipse dos trabalhadores, by Valter Hugo Mãe (2008); O arquipélago da insónia , by António Lobo Antunes (2008); O ano sabático, by João Tordo (2013); Debaixo de algum céu, by Nuno Camarneiro (2013); O osso da borboleta, by Rui Cardoso Martins (2014); Os memoráveis, by Lídia Jorge (2014); Índice médio de felicidade, by David Machado (2015); Uma senhora nunca, by Patrícia Müller (2016). The analysis of the group of texts considers aspects of the space as a narrative category, conceptions about space from philosophy, such as the idea of lived space, and geography, such as the concept of place, as well as from other fields of knowledge, and also considers studies about Portuguese culture. All these data are used to explore how the characters experience the space of the house, revealing the presence of an aspect of Portuguese culture that spans hundreds of years: the islander complex, as conceived by the historian António José Saraiva.