Serviço social e relações patriarcais de gênero: mediações na formação profissional

Abstract

Nesta pesquisa, investigamos de que forma as relações de gênero vêm sendo mediadas na formação profissional em Serviço Social no âmbito do ensino de graduação presencial no Rio Grande do Sul. Objetivamos dar visibilidade para a relevância dessa temática na formação profissional e contribuir com sua ampliação a partir da tradição marxista. Configura-se como estudo qualitativo, com dados quantificáveis, tendo como referência o enfoque misto e o método materialista, histórico e dialético como guia. Aprofundamos a particularidade das relações patriarcais por meio da centralidade da divisão sexual e racial do trabalho, partindo da perspectiva do nó patriarcado-racismo-capitalismo (SAFFIOTI, 2015) em que relações patriarcais de gênero, étnico-raciais e de classe estão imbricadas, são indissociáveis e estruturam as relações sociais. No primeiro momento, realizamos entrevista semiestruturada com 3 docentes assistentes sociais coordenadores (as) de curso e grupo focal com 12 discentes prováveis formandos (os), oriundos de duas Unidades de Formação Acadêmica (UFAs) públicas e uma privada. Posteriormente, enviamos questionário on-line para docentes assistentes sociais de graduação de todas as UFAs com ensino presencial do estado, obtendo retorno de 19 pessoas. Realizamos análise documental dos projetos pedagógicos de curso, matrizes curriculares, ementas e bibliografias de 8 UFAS com ensino presencial. Além disso, desenvolvemos análise documental em cerca de 15 documentos da categoria que orientam e ou impactam a formação profissional. Objetivando alcançar vários ângulos para análise, concretizamos a técnica da triangulação ao articularmos dados produzidos por meio de distintos participantes (34 ao todo), técnicas e fontes. A análise dos dados qualitativos foi realizada com base na análise textual discursiva.Os dados quantificáveis foram analisados por meio de tratamento estatístico descritivo simples. Identificamos que a apreensão das relações patriarcais de gênero vem sendo constantemente ampliada na profissão, mas nem sempre se reflete em expansão qualitativa na formação profissional. Igualmente, verificamos um expressivo reconhecimento da sua importância sob diversos aspectos. De forma geral, identificamos nas disciplinas mediações ocultas e focalizadas, bem como que as mediações vêm perpassando todos os núcleos de fundamentação da formação profissional sugeridos pelas Diretrizes Curriculares da ABEPSS (1996). Embora a tradição marxista tenha sido reconhecida quando da apreensão das relações patriarcais de gênero, muitos elementos sugerem a prevalência de ecletismo na abordagem, logo, esta não hegemoniza a questão. Adensamos possíveis mediações no que tange às materiais básicas (e temas respectivamente relacionados), inclusive às específicas da profissão, e em relação à tradição marxista. Ademais, em contraposição à concepção ainda persistente de que se trata de tema focalizado, específico, apontamos para a necessidade de avançarmos na compreensão ontológica das relações patriarcais de gênero, isto é, como estruturantes das relações sociais, materializando-as como estruturais na formação profissional.