Resumen: | Nas últimas décadas, estudos com animais demonstraram repetidamente que a exposição ao estresse durante o período de desenvolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC) pode levar a profundas alterações no funcionamento dessa estrutura, impactando de forma negativa funções como a cognição. Descobertas recentes, no entanto, demonstraram que uma pequena parcela dos indivíduos expostos ao estresse na infância tornou-se mais resiliente a ele na idade adulta, com alguns destes apresentando, inclusive, um melhor desempenho em determinados desafios cognitivos quando comparados àqueles que não foram expostos ao estresse. Uma possível explicação para a forma como o estresse nos afeta individualmente foi desenvolvida a partir dos novos conhecimentos gerados por avanços no campo da epigenética. Estudos com roedores mostraram que níveis reduzidos do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF) em regiões importantes para o aprendizado e memória, como o hipocampo e o córtex pré-frontal, estão relacionados com uma pior performance em desafios cognitivos. Assim, o presente trabalho busca investigar mecanismos epigenéticos que possam estar relacionados às diferenças individuais observadas em animais expostos ao estresse na infância, a fim de contribuir para um melhor entendimento dos processos que resultam no declínio das funções cognitivas. Com essa finalidade, 104 ratos Wistar de ambos os sexos passarão pela separação materna (utilizada como modelo de indução de estresse neonatal) do 1 ao 14 dia de vida após o nascimento. Ao atingirem a idade adulta com 3 meses, estes animais serão submetidos à tarefa de Reconhecimento do Objeto Novo (RON 1), a fim de identificar os indivíduos, do grupo intervenção, com pior e melhor performance cognitiva, quando comparados ao grupo controle. Passados 15 dias, estes animais serão novamente submetidos à tarefa de RON, dessa vez com o objetivo de induzir uma nova fase de consolidação da memória (RON 2). Serão eutanasiados 3 horas após a última sessão de treino. Em seguida, coletaremos amostras de córtex pré-frontal e hipocampo, a partir das quais será feita a análise da expressão de BDNF pelo teste ELISA (do inglês Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay), e de diferentes RNAs não codificantes (os quais sabidamente afetam a expressão de BDNF), por qPCR (do inglês, quantitative Polymerase Chain Reaction). Espera-se que o conhecimento adquirido através desse estudo possa ajudar a identificar possíveis alvos moleculares para o desenvolvimento de fármacos que visem atenuar ou reverter os efeitos negativos do estresse nos indivíduos mais vulneráveis a ele. |