| Resumo: | Escrever é um ato subversivo por natureza. Não é possível a existência da literatura sem subversão, sem a ruptura de limites. Do ponto de vista político, quando o ato de produção literária ocorre em contextos hostis, como em ditaduras no poder, a literatura costuma ser vista como um ato de subversão se não se ajusta ao pensamento político oficial estabelecido pelo grupo governante. Por outro lado, quando essa obra literária é realizada por pessoas que estão às margens da sociedade, como é o caso das pessoas LGBTIQ+, é possível descobrir nela uma visão de mundo, de política, de identidades e de sociedade completamente diferente e rica em significados, justamente porque é o resultado de uma divergência em relação à norma imposta. Reinaldo Arenas e Caio Fernando Abreu foram exemplos dessa afirmação. Esses autores refletiram em suas obras a realidade em que viveram, bem como sua forma de entender e construir o sujeito não cis-heterossexual como parte de suas respectivas sociedades. Entre ambos, existem uma série de semelhanças e diferenças, fruto das vidas que levaram e dos regimes ditatoriais que tiveram que enfrentar como pessoas homossexuais e politicamente dissidentes. Neste trabalho, analisaremos essas semelhanças e diferenças a partir da análise de dois de seus principais romances: Otra vez el mar e Onde andará Dulce Veiga? Para a análise comparativa, utilizaremos os pressupostos teóricos de diversos autores, como Daniel-Henri Pageaux (2011), Eduardo Coutinho (1994) e Tania Franco Carvalhal (1996), enquanto para analisar a categoria de personagem recorreremos aos pressupostos expressos por teóricos como Antonio Candido (1970) e Noé Jitrik (1975). Para analisar como a teoria queer se vincula à literatura, dialogaremos com os pressupostos expostos por autores como Richard Miskolci (2016).
Writing is a subversive act by nature. The existence of literature is not possible without subversion, without breaking boundaries. From a political standpoint, when the act of literary production takes place in hostile contexts, such as under dictatorial regimes, literature is often seen as an act of subversion if it does not conform to the official political ideology established by the ruling group. On the other hand, when such literary works are created by people who exist on the margins of society, such as LGBTIQ+ individuals, it is possible to discover in them a completely different and meaning-rich vision of the world, politics, identities, and society, precisely because they result from a divergence from the imposed norm. Reinaldo Arenas and Caio Fernando Abreu serve as examples of this assertion. These authors reflected in their works the reality in which they lived, as well as their way of understanding and constructing the non-cisheterosexual subject as part of their respective societies. Between the two, there are several similarities and differences, shaped by the lives they led and the dictatorial regimes they had to face as homosexual and politically dissident individuals. In this study, we will analyze these similarities and differences through an examination of two of their most significant novels: Otra vez el mar and Onde andará Dulce Veiga? For the comparative analysis, we will use the theoretical frameworks of various authors, such as Daniel-Henri Pageaux (2011), Eduardo Coutinho (1994), and Tania Franco Carvalhal (1996), while to analyze the category of character, we will rely on the frameworks proposed by theorists such as Antonio Candido (1970) and Noé Jitrik (1975). To analyze how queer theory relates to literature, we will engage with the frameworks presented by authors such as Richard Miskolci (2016). |
