A referenciação na produção de narrativas orais no envelhecimento sadio e na Doença de Alzheimer e sua relação com a escolaridade e o tipo de estímulo

Abstract

Este estudo busca investigar a referenciação em narrativas orais em idosos saudáveis de diferentes níveis de escolaridade, bem como na Doença de Alzheimer (DA), considerando a influência do tipo de tarefa. Para tanto, foi analisado o uso das referências em duas distintas modalidades de narrativa – relato livre de notícia (RN) e narrativa a partir de apoio visual de sequência de figuras (NF) – produzidas por 20 idosos sadios de alta escolaridade, 19 de baixa escolaridade e quatro diagnosticados com DA em nível leve a moderado. O estudo da referenciação baseou-se nos conceitos da Linguística Textual, propostos por Koch (2013, 2012, 2011, 2009, 2005) e Marcuschi (2014, 2008, 2005), e a metodologia de análise foi adaptada a partir da proposta de Roncarati (2010). Após a transcrição das narrativas produzidas pelos participantes, analisou-se o número e o tipo de referências presentes nos textos (numa análise quantitativa), bem como a adequação dessas referências (numa análise qualitativa). Os dados foram cruzados intra e intergrupos. Os resultados encontrados mostram que o RN tende a ser um texto mais conciso, com menor progressão referencial e temática do que a NF. Esta, por sua vez, proporciona o maior uso de dêiticos demonstrativos. Quanto à escolaridade, idosos com maior nível de ensino formal apresentaram narrativas coerentes e sem problemas referenciais, demonstrando preservada habilidade discursiva. Idosos sadios com baixa escolaridade, embora tenham demonstrado habilidades preservadas, apresentaram desempenho inferior ao de idosos de alta escolaridade no que se refere ao emprego de expressões nominais ambíguas ou sem referente, expressões com sentido vago e dêiticos espaciais (nas RN) e textos com menor progressão referencial e temática, além de maior usos palavras com sentido vago (nas NF).Por fim, os participantes com DA apresentaram desempenho inferior ao de idosos sadios em ambas as narrativas: no RN, eles demonstraram dificuldades em relatar um fato recente e organizá-lo num contexto narrativo e nas NF apresentam a tendência a produzirem descrição isolada das cenas, demonstrando sua inabilidade em reconhecer a estrutura narrativa apresentada nas imagens. Além disso, a habilidade em usar adequadamente dêiticos espaciais parece estar prejudicada na doença. Apenas um participante com DA apresentou desempenho semelhante ao do grupo controle de baixa escolaridade na NF. Os achados deste estudo, portanto, evidenciam o importante papel da escolaridade na preservação de habilidades discursivas no envelhecimento sadio, bem como apresentou evidências sobre as características da referenciação na DA.

The present study investigates referential processes in oral narratives among healthy elderly people of different educational backgrounds, and also in Alzheimer’s Disease (DA), considering the influence of the type of task. This was accomplished by analyzing the use of references in two distinct narratives modality – news free report (RN) and narratives using a visual support of a sequence of images (NF) – produced by healthy elderly people, being 20 with high education and 19 with lower education, and four diagnosed with DA in mild to moderate level. The study of referencing is based on the concepts of Linguistics Textual, proposed by Koch (2013, 2012, 2011, 2009, 2005) and Marcuschi (2014, 2008, 2005), and analysis methodology was adapted from the proposed Roncarati (2010). After transcribing the narratives produced by the participants, analyzed the number and type of references present in texts (a quantitative analysis) as well as the appropriateness of those references (a qualitative analysis). Data were intra and inter crossed. The results found show that the RN type is more likely to be a more concise, with lesser theme and referential progression text than the NF type. The NF type, in turn, allows a greater use of demonstrative deictics. Concerning education, elderly people with a higher formal education presented coherent narratives with no referential problems, showing a well-preserved discursive ability. Healthy elderly people with lower education, although they showed well-preserved abilities, demonstrated inferior performance compared to the ones with higher education regarding the use of nominal expressions that are ambiguous or that have no referent, expressions with vague meaning and spatial deictics (in the RN types) and texts with lesser referential and theme progression, besides a greater use of words with vague meaning (in the NF types).Finally, the participants with DA presented an inferior performance compared to healthy elderly people in both types of narratives: in the RN ones, they struggled to report a recent fact and organize it in a narrative context and in the NF ones they were more likely to produce isolated descriptions of the scenes, showing their lack of ability in recognizing the narrative structure presented in the images. Moreover, the ability to properly use spatial deictic seems to be impaired in the disease. Only one participant with DA, presented a similar performance to the control group to the lower education in NF type. The findings of this study, therefore, show the important role of formal education in the preservation of discursive abilities for healthy aging, as well as presented evidences about the characteristics of referential processes in DA.