O nó da nossa solidão : uma análise sobre suicídio no Brasil

Abstract

Esta tese investiga o fenômeno do suicídio e sua relação com a formação econômico-social no Brasil, a partir do ano de 1979 – período em que os dados sobre o suicídio estão disponíveis na plataforma do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Procuramos identificar quais as particularidades da formação brasileira que incidem sobre os processos de vida e morte. Atentamos assim para um país que trilha uma história de democracias restritas, de imensas desigualdades, de um desenvolvimento de tipo conservador e de importante dependência externa. Analisamos como o capitalismo se desenvolve no Brasil e chegamos até os dias atuais – num capitalismo de tipo neoliberal – onde tecemos alguns apontamentos sobre a história do neoliberalismo, sobre as disputas que passam do campo político/econômico/social para a disputa da subjetividade e construção de uma nova forma de sociabilidade. Constatamos então, que o neoliberalismo tende a acentuar o número de suicídios por duas vias: 1) através da precarização das condições de trabalho e de não trabalho, piorando as condições materiais de vida da classe trabalhadora 2) pela imposição de uma visão de mundo que deposita no sujeito, no indivíduo, todas as responsabilidades pelo sucesso ou insucesso em sua vida – quando identificamos que as políticas neoliberais são voltadas justamente para gerar a miséria de muitos e a “felicidade” de poucos. Constatada a necessidade de construir alternativas de enfrentamento ao fenômeno, procuramos mapear todas as legislações (nacionais e estaduais), disponíveis online, que tratam da temática.Analisando com mais afinco as leis que propõem ações diretamente voltadas ao enfrentamento do suicídio, procurando compreender o que se apresenta a partir das categorias: prevenção, assistência, pós-venção e vigilância – e se nestas políticas, estão contempladas ações que vão para além da intervenção com e/no indivíduo, mas que considere a necessidade de uma vida digna. Para isso, utilizamos a análise de conteúdo para descrever, interpretar e elaborar novas sínteses com vistas a contribuir com estratégias de enfrentamento do fenômeno, compreendendo que: numa sociedade que se conforma com doenças e mortes evitáveis, o suicídio torna-se inerente e até mesmo desejável para o processo de descartabilidade do “excedente” – daqueles que “fracassaram” em viver ou tornar a “vida acreditável”.