Resumo: | A memória de reconhecimento social (MRS) é crucial à reprodução, formação de
grupos sociais e sobrevivência das espécies. Sabe-se que a ocitocina, a
vasopressina, os hormônios sexuais e o bulbo olfatório têm um forte envolvimento na
formação da MRS. Apesar de sua relevância, a participação de neurotransmissores,
como dopamina (DA), noradrenalina (NA) e histamina (HIS), bem como das estruturas
amígdala basolateral (BLA) e região CA1 do hipocampo (CA1) – já amplamente
conhecidos pela sua importância na consolidação e manutenção de outros tipos de
memórias – permanece desconhecido quanto à MRS. Sendo assim, a primeira parte
deste trabalho buscou avaliar a participação dos receptores D1/D5 dopaminérgicos,
ß-adrenérgicos e H2 histaminérgicos na BLA e CA1 sobre a consolidação da MRS.
Para isso, ratos Wistar machos adultos (3 meses) foram submetidos a tarefa de
discriminação social (TDS), que baseia-se na tendência natural dos roedores de
explorar a novidade. O animal adulto foi exposto a um juvenil (21 dias) coespecífico
por 1 hora (sessão de treino) e 24 horas depois ao juvenil previamente encontrado
(familiar) e a um novo juvenil durante 5 minutos (sessão de teste), quando o tempo de
exploração foi medido. As intervenções farmacológicas ocorreram imediatamente
após a sessão de treino. Verificou-se que os receptores H2 histaminérgicos são
necessários para a consolidação da memória tanto em CA1 quanto na BLA. Contudo
a ativação dos receptores D1/D5 dopaminérgicos e ß-adrenérgicos interfere de forma
oposta nas duas estruturas cerebrais: os receptores D1/D5 são necessários em CA1,
mas não na BLA para a consolidação da MRS, enquanto a ativação dos receptores ßadrenérgicos é indispensável na BLA, porém não em CA1. O metilfenidato (MPH) é
um fármaco amplamente utilizado no tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção
e Hiperatividade. Exerce seu efeito terapêutico pelo aumento nos níveis de DA e NA
em estruturas cerebrais envolvidas nos processos de aprendizagem, como córtex préfrontal (CPF) e hipocampo. Uma vez que a DA e a NA tem ações opostas na MRS,
decidimos avaliar o efeito do MPH sobre a formação e a evocação da MRS, já que
esta droga atua sobre os níveis de ambos os neurotransmissores e tem sido utilizada
como doping acadêmico por indivíduos saudáveis. Utilizando a TDS, com as
intervenções farmacológicas em diferentes momentos, verificamos que: 1) o MPH,
administrado de forma sistêmica aguda previamente à aquisição da informação, bloqueou a MRS; 2) O bloqueio foi revertido quando os animais receberam MPH no
momento da aquisição e da evocação, caracterizando o fenômeno conhecido como
dependência de estado (DE); 3) A DE é associada ao CPF, mas não a CA1; 4) A DE
não depende de CA1, pois o aumento de NA em CA1 prejudica a evocação da MRS.
Além disso, verificamos que o tratamento crônico de 21 dias com MPH causa uma
maior persistência da MRS, quando realizada uma sessão de treino mais fraca.
Considerando os resultados obtidos, este trabalho demonstra que o hipocampo, a
amígdala basolateral e o córtex pré-frontal, modulados pelos sistemas dopaminérgico
e noradrenérgico, regulam o processamento da MRS. The social recognition memory (SRM) is crucial to reproduction, formation of social
groups and species survival. It is well known that oxytocin, vasopressin, sexual
hormones and the olfactory bulb are strongly involved in the formation of SEM. Despite
its relevance, the involvement of neurotransmitters such as dopamine (DA),
noradrenaline (NE) and histamine (HIS), as well as the brain structures basolateral
amygdala (BLA) and CA1 region of dorsal hippocampus – commonly known for their
importance in consolidating and maintaining other types of memories – remains
unknown when concerning SRM. Therefore, the first part of this study aims to evaluate
the participation of the D1/D5 dopaminergic, ß-adrenergic and H2 histaminergic
receptors into BLA and CA1 on consolidation of SRM. For this, male Wistar adult rats
(3 months) were submitted to the social discrimination task (SDT), which is based on
the natural tendency of the rodents to explore the novelty. The adult animal was
exposed to a juvenile (21 days) conspecific for 1 hour (training session) and 24 hours
later to the juvenile previously met (familiar) and to a new juvenile during 5 minutes
(test session), when the exploration time was measured. Pharmacological
interventions took place immediately after the training session. We verified that the H2
histaminergic receptors are required to the consolidation of SRM both in CA1 and BLA.
However, the activation of D1/D5 dopaminergic and ß-adrenergic receptors interferes
in an opposite way in the two brain structures: D1/D5 receptors are required in CA1,
but not in BLA for consolidation of MRS, whereas activation of ß-adrenergic receptors
is indispensable in BLA, but not in CA1. Methylphenidate (MPH) is a drug widely used
in the treatment of Attention Deficit Hyperactivity Disorder. It exerts its therapeutic
effect by increasing levels of DA and NE in brain structures involved in the learning
processes, such as prefrontal cortex (PFC) and hippocampus. Since DA and NE have
opposite actions in MRS, we decided to evaluate the effect of MPH on the formation
and recall of MRS, since this drug acts on the levels of both neurotransmitters and has
been used for academic doping by healthy individuals. Using SDT, with
pharmacological interventions at different times, we verified that: 1) MPH, administered
acutely prior to the information acquisition, blocked SRM; 2) Blockade was reversed
when the animals received MPH at the time of acquisition and retrieval, characterizing
the phenomenon known as state dependency (SD) learning; 3) The SD is associated to the CPF, but not to CA1; 4) SD does not depend on CA1, since the increase of NE
in CA1 impairs the retrieval of the SRM. In addition, we verified that the 21-day chronic
treatment with MPH causes a greater persistence of MRS when a weaker training
session is performed. Considering the obtained results, this work demonstrates that
the hippocampus, the basolateral amygdala and the prefrontal cortex, modulated by
the dopaminergic and noradrenergic systems, regulate the SRM processing. |