Utilize este identificador para citar ou criar um atalho para este documento: https://hdl.handle.net/10923/16383
Tipo: doctoralThesis
Título: Avaliação das características do sono e prevalência de distúrbios em crianças e adolescentes brasileiros: estudo de base populacional
Autor(es): Almeida, Geciely Munaretto Fogaça de
Orientador: Nunes, Magda Lahorgue
Editora: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Programa: Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde
Data de Publicação: 2017
Palavras-chave: TRANSTORNOS DE SONO
CRIANÇAS
ADOLESCENTES
MEDICINA
Resumo: Introdução: O Brasil é um país com dimensões continentais, com mais de 207 milhões de habitantes, sendo aproximadamente 30 milhões de crianças e 35 milhões de adolescentes. A desigualdade socioeconômica brasileira e a multiculturalidade nas diferentes regiões do país interferem em diversos aspectos do desenvolvimento humano e na saúde da população em geral. Os distúrbios do sono (DS) são frequentes na infância e adolescência. As taxas de prevalência em diferentes locais do mundo variam de 20 a 40%, mas no Brasil esse número ainda é pouco conhecido. Os DS estão relacionados com aspectos comportamentais, ambientais e sociais, sendo importante seu reconhecimento precoce para o adequado manejo clínico. Objetivos: descrever as características do sono em crianças e adolescentes brasileiros, verificar a prevalência de DS e a associação com aspectos perinatais, regiões brasileiras e níveis socioeconômicos. Método: Estudo exploratório, transversal e contemporâneo, envolvendo crianças e adolescentes brasileiros, de 0 a 19 anos, investigados por faixas etárias, regiões do país e níveis socioeconômicos. A amostra do estudo foi de 1.180 indivíduos, sendo investigadas proporcionalmente faixas etárias estratificadas de acordo com os instrumentos de avaliação (0-3 anos; 4-12 anos e 13-19 anos), as 5 regiões do Brasil (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul) e os 5 níveis socioeconômicos (baixo, médio baixo, médio, médio alto e alto), conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Foram incluídos no estudo todos os sujeitos dentro da faixa etária estipulada, com consentimento dos pais e/ou responsáveis e assentimento da criança/adolescente. Os dados foram coletados de forma on-line, utilizando instrumentos específicos de avaliação do sono, nas versões validadas para uso no Brasil: 0-3 anos (“Brief Infant Sleep Questionnaire – BISQ”); 4-12 anos (“Sleep Disturbance Scale for Children – SDSC”); 13-19 anos (“Epworth Sleepiness Scale – ESS” e “Pittsburgh Sleep Quality Index – PSQI”). Os dados foram analisados no Software SPSS 11.0 for Windows. As variáveis categóricas foram apresentadas em frequência e porcentagem. As variáveis contínuas foram apresentadas em média, desvio-padrão, valor mínimo e valor máximo. Análises bivariadas foram conduzidas por regressão logística simples e usadas no modelo de regressão logística múltipla, através do estatístico de Wald. As variáveis com P≥0,150 (seleção metódica para trás) foram uma a uma, eliminadas do modelo, comparadas pelo teste da razão de verossimilhança. Foram estudadas as possíveis interações entre as variáveis e aquelas com significância superior a 0,05 foram estudadas como possíveis fatores de confusão, considerando-as como tal se a porcentagem de alteração dos coeficientes fosse maior que 15%. Significância estatística foi considerada para P≤0,05. Distúrbios do sono foram classificados conforme os critérios originais das escalas utilizadas. Resultados: Foram preenchidos 1.250 questionários, sendo excluídos 70 com dados incompletos, totalizando uma amostra de 1.180 indivíduos, sendo 350 de 0 a 3 anos (90 até 1 ano de idade), 450 de 4 a 12 anos e 380 de 13 a 19 anos. A taxa de coleito foi de 38,9% em menores de 1 ano e 16,9% em crianças de 1 a 3 anos. Com relação à posição de dormir, 68,8% dos menores de 1 ano dormem de barriga para baixo ou de lado. Hábitos inadequados antes de dormir foram observados nas crianças até os 3 anos de idade, como assistir televisão (10,9%). A média de tempo de sono noturno (9h30min) foi abaixo dos parâmetros apropriados. Apesar de 78% dos responsáveis não considerarem o sono da criança um problema, 44,3% deles perguntam eventualmente sobre o sono ao pediatra. Porém, somente 15% dos pediatras questionam sempre sobre o sono da criança nas consultas de rotina. Nas crianças de 4 a 12 anos, 64,8% apresentou hábitos inadequados antes de dormir, com destaque para os que assistem televisão (25,6%). A taxa de co-leito foi de 47,1% (eventual), 13,5% (frequente) e 10,9% (sempre). A média de tempo total do sono noturno (9h15min) pode ser considerada abaixo dos parâmetros recomendados. Nessa faixa etária, 42,2% dos responsáveis questiona o pediatra eventualmente sobre o sono da criança e apenas 10% dos pediatras perguntam sempre sobre o sono da criança nas consultas de rotina. Nos adolescentes de 13 a 19 anos, quando avaliados hábitos de sono antes de dormir, observou-se que 69,7% assistem televisão, 61,1% usam computador, 50,5% usam celular e 49,7% jogam videogame. A média de tempo de sono noturno dos adolescentes (8h) está no limite inferior recomendado. Nosso estudo encontrou 25,5% (N=301) como média de prevalência de DS em toda a amostra estudada, sendo de 20% (N=70) entre 0 e 3 anos (8% com “mais de 3 despertares noturnos”, 11,4% com “período acordado noturno superior a 1 hora” e 6,6% com “tempo total de sono menor que 9 horas”); 23% (N=104) entre 4 e 12 anos (“Distúrbio de início e manutenção do sono”: 22,7%; “Distúrbio de transição sono-vigília”: 18,4%, “Distúrbio respiratório do sono”: 17,1%; “Distúrbio do Despertar”: 10,4%, “Sonolência Excessiva Diurna”: 9,3%, “Hiperidrose do Sono”: 9,1%) e 33,4% (N=127) entre 13 e 19 anos, sendo que 52,9% (N=201) apresentaram sonolência diurna leve e 27,9% sonolência diurna excessiva. Além disso, componentes importantes de sono foram considerados ruins com relação à qualidade (21,6%), latência (34,7%), duração (10,8%) e eficiência (6,8%), sendo que 18,4% informaram dificuldade para dormir e 29,7% referiram disfunção diurna. Na faixa etária de 0-3 anos houve aumento significativo do risco de DS associado às variáveis problemas de saúde atual (OR: 3,72 [1,43-9,66], P<0,01) e naquelas que o responsável considera o sono da criança um problema (OR: 9,83 [4,74-20,41], P<0,01). Nas crianças de 4 a 12 anos, houve aumento significativo do risco de DS associado às variáveis hospitalização após o nascimento (OR: 1,86 [1,03-3,37], P<0,05), dorme na cama dos pais (OR: 2,46 [1,27-4,79], P<0,01) e naquelas que o responsável perguntou ao pediatra sobre o sono da criança nas consultas de rotina (OR: 2,28 [1,26 – 4,12], P<0,01). Entre os adolescentes de 13 a 19 anos, houve aumento significativo do risco de DS associado às variáveis uso de medicação (OR: 2,94 [1,48 – 5,84], P<0,01), hábito de jogar videogame antes de dormir (OR: 1,28 [1,14 – 1,54], P<0,01) e usar o celular (OR: 1,49 [0,88 – 2,53], P<0,05). Em relação a distribuição regional da prevalência de DS, foram observadas taxas mais elevadas em crianças de 0 a 3 anos na região sudeste (26,1%), de 4 a 12 anos na região nordeste (36,2%) e de 13 a 19 anos na região centro-oeste (44,7%), entretanto, não houve diferença estatisticamente significativa entre as regiões em nenhuma das faixas etárias. Com relação ao nível socioeconômico (NSE), foi observado aumento significativo do risco de DS nas crianças de 0 a 3 anos com NSE baixo (OR: 3,07 [0,80-11,78] P<0,05), de 4 a 12 anos com NSE médio-baixo (OR: 5,36 [1,84-15-62] P<0,01) e de 13 a 19 anos com NSE alto (OR: 3,81 [1,64-8,85] P<0,01). Conclusão: de acordo com este estudo, crianças e adolescentes brasileiros apresentam hábitos inadequados para dormir em todas as faixas etárias pesquisadas, com valores médios de tempo total de sono noturno abaixo do recomendado. Pais e pediatras preocupam-se eventualmente com o sono das crianças nas consultas de rotina. A prevalência de DS nas crianças e adolescentes brasileiros pode ser considerada semelhante às taxas internacionais e está relacionada a aspectos perinatais e de saúde atual. DS são mais prevalentes em algumas regiões do país e com maior risco em determinados níveis socioeconômicos. Estes aspectos alertam para a necessidade de uma atenção maior nas consultas de rotina, com diagnóstico e tratamento precoce, minimizando os riscos para a saúde da população pediátrica.
Introduction: Brazil is a continental country with more than 207 million habitants, with approximately 30 million children and 35 million adolescents. Brazilian socioeconomic inequality and multiculturalism in the different regions of the country interfere in several aspects of human development and in the health of the population in general. Sleep disorders (DS) are common in childhood and adolescence. Prevalence rates in different places in the world vary from 20 to 40%, but in Brazil, this number is still little known. SDs are related to behavioral, environmental and social aspects, and their early recognition for appropriate clinical management is important. Objectives: to describe the characteristics of sleep in Brazilian children and adolescents, to verify the prevalence of DS and the association with perinatal aspects, Brazilian regions and socioeconomic levels. Method: An exploratory, transversal and contemporary study involving Brazilian children and adolescents, aged 0 to 19 years, investigated by age groups, regions of the country and socioeconomic levels. The study sample consisted of 1,180 individuals, and the age groups stratified according to the assessment instruments (0-3 years, 4-12 years and 13- 19 years), the 5 regions of Brazil (North, Northeast, Central (Low, medium low, medium high and high), according to data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). All subjects within the stipulated age range were included in the study, with parental and / or guardian consent and child / adolescent consent. The data were collected online, using specific sleep evaluation instruments, in the versions validated for use in Brazil: 0-3 years (Brief Infant Sleep Questionnaire - BISQ); 4-12 years ("Sleep Disturbance Scale for Children - SDSC"); 13-19 years ("Epworth Sleepiness Scale - ESS" and "Pittsburgh Sleep Quality Index - PSQI"). The data were analyzed in SPSS 11.0 for Windows Software. Categorical variables were presented in frequency and percentage. Continuous variables were presented as mean, standard deviation, minimum value and maximum value. Bivariate analyzes were conducted by simple logistic regression and used in the multiple logistic regression model using the Wald statistic. The variables with P≥0,150 (methodical backward selection) were one by one, eliminated from the model, compared by the likelihood ratio test. The possible interactions between the variables and those with significance higher than 0.05 were studied as possible confounding factors, considering them as such if the coefficient change percentage was greater than 15%. Statistical significance was considered for P≤0.05. Sleep disturbances were classified according to the original criteria of the scales used. Results: 1.250 questionnaires were filled out, 70 were excluded with incomplete data, totaling a sample of 1.180 individuals, of which 350 were from 0 to 3 years (90 to 1 year of age), 450 from 4 to 12 years and 380 from 13 to 19 years. The co-bedtime rate was 38.9% in children under 1 year and 16.9% in children aged 1 to 3 years. Regarding the sleeping position, 68.8% of children under 1 year old sleep belly down or sideways. Inadequate pre-bedtime habits were observed in children up to 3 years of age, such as watching television (10.9%). The mean nocturnal sleep time (9h30min) was below the appropriate parameters. Although 78% of those responsible did not consider the child's sleep a problem, 44.3% of them ask about sleep to the pediatrician. However, only 15% of pediatricians always question the child's sleep during routine visits. In children aged 4 to 12 years, 64.8% presented inadequate habits before bed, especially those who watch television (25.6%). The co-bedtime rate was 47.1% (eventual), 13.5% (frequent) and 10.9% (always). The mean total nocturnal sleep time (9h15min) may be considered below the recommended parameters. In this age group, 42.2% of those responsible question the pediatrician eventually about the child's sleep and only 10% of the pediatricians always ask about the child's sleep during routine visits. In adolescents aged 13 to 19, when they assessed sleep habits before bedtime, it was observed that 69.7% watched television, 61.1% used computers, 50.5% used cell phones and 49.7% played video games. The average nighttime sleep time of adolescents (8 hours) is at the lower limit recommended. Our study found 25.5% (N = 301) as mean DS prevalence throughout the study sample, being 20% (N = 70) between 0 and 3 years old (8% with "more than 3 nocturnal awakenings", 11.4% with an "agreed-upon night period greater than 1 hour" and 6.6% with "total sleep time less than 9 hours"); 23% (N = 104) between 4 and 12 years ("Sleep onset and sleep disturbance": 22.7%; "Sleep-wake transition disorder": 18.4%, "Respiratory sleep disorder": 17 , "Sleep Disorder": 9.1%) and 33.4% (N = 127) between 13 and 24 hours, 19 years, with 52.9% (N = 201) presenting with mild diurnal drowsiness and 27.9% excessive daytime drowsiness. In addition, important sleep components were considered poor in quality (21.6%), latency (34.7%), duration (10.8%) and efficiency (6.8%), with 18.4% % reported difficulty sleeping and 29.7% reported daytime dysfunction. In the age range of 0-3 years, there was a significant increase in the risk of DS associated with the current health problems (OR: 3.72 [1.43- 9.66], P <0.01) and those considered responsible the child's sleep problem (OR: 9.83 [4.74-20.41], P <0.01). In children aged 4 to 12 years, there was a significant increase in the risk of SD associated with the variables hospitalization after birth (OR: 1.86 [1.03-3.37], P <0.05), sleep in parents' bed (OR: 2.46 [1.27-4.79], P <0.01) and in those who the caregiver asked the pediatrician about the child's sleep during routine visits (OR: 2.28 [1.26 - 4,12], P <0.01). Among adolescents aged 13 to 19 years, there was a significant increase in the risk of SD associated with medication use variables (OR: 2.94 [1.48 - 5.84], P <0.01), a habit of playing videogame before (OR: 1.28 [1.14 - 1.54], P <0.01) and to use the cell phone (OR: 1.49 [0.88 - 2.53], P <0.05). In relation to the regional distribution of DS prevalence, higher rates were observed in children from 0 to 3 years in the southeast region (26.1%), from 4 to 12 years in the northeast region (36.2%) and from 13% 19 years in the central-west region (44.7%), however, there was no statistically significant difference between the regions in any of the age groups. Regarding the socioeconomic level (NSE), there was a significant increase in the risk of DS in children from 0 to 3 years old with low SES (OR: 3.07 [0.80-11.78] P <0.05), from (OR: 5.36 [1.84-15-62] P <0.01) and from 13 to 19 years with high SES (OR: 3.81 [1.64- 8.85] P <0.01). Conclusion: according to this study, Brazilian children and adolescents present inadequate sleeping habits in all age groups surveyed, with mean values of total nocturnal sleep time below the recommended level. Parents and pediatricians eventually worry about children's sleep in routine consultations. The prevalence of DS in Brazilian children and adolescents can be considered similar to international rates and is related to perinatal aspects and current health. DS are more prevalent in some regions of the country and with higher risk in certain socioeconomic levels. These aspects point to the need for greater attention in routine consultations, with diagnosis and early treatment, minimizing the risks to the health of the pediatric population.
URI: http://hdl.handle.net/10923/16383
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